quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

"Alunos discriminados por classe social e notas"

Aceder ao conhecimento é uma questão fundamental para se ser livre!

Noticia do JN de 20 de Dezembro de 2007:
"Escolas oficiais escolhem alunos com base em notas e origem social

O insucesso escolar é potenciado, em muitas escolas, pela escolha dos alunos com base no seu aproveitamento escolar e na sua origem social. Dois investigadores portugueses, especializados em Sociologia da Educação, constataram a selecção - ao arrepio da legislação existente e da própria Constituição - de alunos com base na análise do percurso escolar.

"Escolas situadas no mesmo bairro têm públicos claramente contrastantes. Numa, cerca de 50% dos alunos apresentam elevadas taxas de insucesso, e na outra, quase ao lado, esse número fica-se pelos 2%",

“No estudo elaborado (…), Pedro Abrantes verificou que numa das escolas (frequentada basicamente por alunos de classes sociais desfavorecidas), 50% dos alunos tinham sido recusados noutro estabelecimento, normalmente aquele preferido pelas classes sociais média ou alta.”

“Pedro Abrantes vai mais longe, ao realçar a própria constituição da turmas. "Em muitas escolas, numa lógica perversa, constituem-se turmas com filhos de professores, médicos e juristas e outras onde predominam alunos problemáticos. Mais grave ainda é ficarem os professores mais velhos com as turmas de excelência, cabendo aos mais novos as restantes", concluiu.”


Recorrentemente a burguesia afirma que a luta de classes não existe, é uma afirmação anacrónica, sem sentido. No entanto no dia a dia, essa mesma burguesia pratica-a da forma mais baixa e reles, não tendo pejo em lesar a dignidade dos trabalhadores e dos seus filhos.

Ao fazer a segregação por classes sociais no ensino, o que a burguesia (no poder) está a fazer, é assegurar a sua continuidade no poder e impedir a existência de uma efectiva democracia.

Como dizia a canção do Sérgio Godinho, só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, saúde educação...

4 comentários:

Silvares disse...

Agora imagina as turminhas do Colégio Moderno ou do Colégio Francês, para dar dois exemplos apenas. A ilusão de uma sociedade igualitária só sobrevive durante um período revulocionário como o que seguiu a 1974. Quando a poeira da euforia utópica assentou a dura realidade voltou ao cimo. A luta de classes existe mas é mais uma escaramuça pois o vencedor está mais que encontrado. No fim perdemos todos, mas isso é uma outra história.

Olaio disse...

Ah homem de pouca fé!

Nos anos 30 Bertold Brecht escreveu este poema:

"Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã"


Isto escrevia o Brecht nos anos 30, quando Hitler tomava o poder, no principio dos anos 40 as coisas ainda estavam mais pretas, com a derrota dos republicanos espanhóis, o avanço dos nazis por toda a Europa, os japoneses na Ásia e os italianos em África, mas as coisas mudaram radicalmente.

Particularmente assisti já a duas grandes mudanças:
O 25 de Abril, embora fosse criança, mas havia muitos adultos que também não acreditavam que aquilo fosse possível.
A queda da URSS, também acreditava e mais de meio mundo, que o socialismo lá, era um dado adquirido e afinal foi tudo por água abaixo num abrir e fechar de olhos.

Portanto como Brecht eu digo: Quem ainda está vivo não diga: nunca!

Anónimo disse...

Que a sociedade se reproduz a ela própria e que mantém a estrutura de poder mais ou menos na mesma já todos nós sabemos. Mas o problema não é a burguesia. Na prática o poder não está na mão da burguesia. Está na mão de meia duzia de individuos que comandam sem se mostrarem. A burguesia de hoje será mais ou menos como o proletariado de ontem... Apenas se mudaram os nomes e talvez as relações de poder, pois os operários e os camponeses estão a desaparecer como força social.
Burgueses somos nós... e eu pessoalmente não tenho poder nenhum..

Anónimo disse...

Pois é Vasco da Gama, os operários e os camponeses estão a desaparecer.

Mas quem é que constrói as nossas casas, os nossos carros, os nossos telemóveis, frigoríficos, fogões, aspiradores, televisores, os nossos óculos, os nossos garfos, pratos, as garrafas onde bebemos as nossas cervejas, de onde vem o petróleo, será que aparece do nada? E o vinho, esse magnifico néctar dos deuses?

Quem constrói as estradas, pontes, computadores, chips, processadores. A energia chega até nós por desígnio divino?
Olho à minha volta e vejo, CD`s, agrafadores, televisores, impressoras, calculadoras, rolos de fita-cola, mesas, bancos, um aquecedor, uma cadeira...será tudo obra divina?

De repente percebo que tenho vestido um casaco, uma blusa, uma tshirt, umas calças, umas cuecas, uns sapatos e meias, por toda a parte montes de papéis... de onde virá isto tudo?
Será tudo obra de Deus?

E a comida que eu como todos os dias, será obra desse constante milagre da multiplicação dos pães e das sardinhas? E a porcaria que eu faço e que todos os meus vizinhos fazem, desaparece por obra do senhor?

Quantas perguntas sem resposta e os operários e os camponeses a desaparecer, ou será que mudaram de sitio neste mundo global?