domingo, 28 de setembro de 2008

Do triunfalismo à crise profunda.

O triunfalismo capitalista dos anos 90 que, frente às derrotas do socialismo, anunciava mais liberdade, mais paz e segurança internacionais, mais progresso social, não resistiu à prova dos factos.

As receitas do neoliberalismo e as teses justificativas da globalização capitalista, embora ainda dominantes, desacreditaram-se rapidamente. O capitalismo não só se revela incapaz de dar satisfação aos interesses e aspirações dos povos como põe em perigo a própria humanidade.

A contradição entre as imensas potencialidades das conquistas da ciência e da técnica e as terríveis regressões que percorrem o mundo contemporâneo – desemprego, fome, doença, analfabetismo, catástrofes ambientais – constitui em si mesma, uma violenta acusação ao sistema capitalista.

7 comentários:

Silvares disse...

Concordo contigo. O problema é não se ter conseguido construir uma alternativa credível. O fracasso do capitalismo somado ao logro do comunismo deixa-nos descalços. Quando os faróis da esperança são países como a China ou a Coreia do Norte temos naufrágio assegurado. Está bom para abutres.

Anónimo disse...

Perturbante!
Abutres sem fome que se alimentam dos corpos esfomeados das crianças mártires.
Onde estão essas Mega- feiras de solidariedade com África?
Onde estão os Bonos, as Angelinas, os Bobs, os Sampaios etc..
Para onde vai esse dinheiro?
Os Sistemas Políticos podem ter falhado.. não se vislumbrando outros credíveis... mas
venceu também a corrupção, a moda da solidariedade como promocão social e profissional, a indiferença e a cegueira como rotina.

Silvares disse...

Muita da ajuda humanitária enviada para África não chega aos reais destinatários, é logo abocanhada pelos abutres humanos. Daí que seja mais eficaz apostar em programas de desenvolvimento locala médio e longo prazo do que no envio imediato de bens de consumo e dinheiro que acabam por fazer a fortuna das aves de rapina...

Olaio disse...

Quando se fala em “logro do comunismo” era bom que não se esquecesse algumas verdades, tais como a gigantesca contribuição da URSS e, posteriormente dos países socialistas, para os grandes avanços de civilização verificados no século XX. Países atrasados transformaram-se num curto espaço de tempo em países altamente industrializados e socialmente avançados em que foram alcançados direitos historicamente inéditos.

A propriedade social dos meios de produção na União Soviética permitiu os mais rápidos ritmos de crescimento industrial jamais registados em qualquer época da história. Isso ocorreu nos anos 30, mas também a seguir à guerra até meados dos anos 50. Em quatro ou cinco anos a União Soviética conseguiu recuperar da devastação provocada pela II Guerra Mundial e em 1957 transformou-se na primeira nação do mundo a colocar um homem em órbita.

As conquistas sociais e democráticas nos países capitalistas, vulgarmente identificados com o “Estado Social”, a derrocada dos impérios coloniais e o impetuoso avanço do movimento de libertação nacional dos povos de África, Ásia e América Latina, são inseparáveis da existência e das realizações da URSS e dos países socialistas.

A vida está a demonstrar de modo dramático que o (infeliz) desaparecimento do factor de contenção que a URSS representava, deixou o mundo mais exposto à natureza exploradora e agressiva do capitalismo tornando-o mais injusto e perigoso.

Silvares disse...

Não deixa de ser estranho que um amanhã tão melodioso tenha desabado de forma tão rápida e entusiástica. O povo russo e das restantes repúblicas soviéticas revelou-se ingrato e, acima de tudo, ignorante, por não reconhecer a superioridade de tão esmagadoras conquistas. Já sei que a queda do comunismo foi obra de traidores. Mas parece que houve milhões de traidores. O que nos vale é podermos continuar a analisar a evolução da revolução comunista nas dinastias que restam. Temos os exemplos de Cuba e da Coreia, onde o poder tem nome de família, numa estranha mescla de comunismo e absolutismo oitocentista. A História é uma coisa estranha...

Olaio disse...

Um problema que uma equipa de futebol pode ter, é quando 10 minutos após o início do jogo se encontra a ganhar, julgar que já tem o jogo ganho, é certo e sabido que se assim pensa o vai perder.

O capitalismo para se impor precisou de séculos. Em Portugal a primeira revolução burguesa deu-se em 1383, no entanto o capitalismo para se impor como sistema ainda precisou de esperar séculos que a Revolução francesa viesse.

O socialismo comemorou o ano passado 90 anos que pela primeira vez foi proclamado num pais, Marx e Engels, publicaram o Manifesto do Partido Comunista há 160 anos, diríamos que ainda estamos na juventude de uma ideologia.

Um dos papéis da imprensa do sistema é criar “verdades” que os incautos mais bem ou mal intencionados se encarregam de repetir.

Uma dessas “verdades” é afirmar que o fim da URSS foi um processo “rápido e entusiástico”. A verdade é que o processo de desmantelamento da URSS correspondeu, por um lado a deficiências próprias dos seus defensores, os comunistas, e a uma acção deliberada daqueles que pretendiam a restauração do capitalismo e que de forma clara agem a partir de 1986 com a chegada de Iákovlev ao CC do PCUS, altura em que Gorbatchov toma a decisão consciente de que não é mais comunista, mas um social-democrata.

Desde essa altura e até Agosto de 1991, desenvolve-se todo o processo de desmantelamento da URSS (sim, com muitas traições de membros do PCUS). Pouco antes de Ieltsin correr com Girbatchov, na data atrás referida, realizou-se na URSS um referendo sobre se o povo desejava ou não a continuação da União, 75% votou a favor da sua manutenção. Nessa altura o poder e os principais órgãos de comunicação social estavam já dominados por anti-comunistas.

Diz-se que o povo se manifestou de forma entusiástica, no entanto o visionamento das imagens dessa altura, por mais manipulação que se faça, não é isso que mostram, as manifestações são verdadeiramente pequenas, é certo que do outro lado a desagregação das estruturas politicas e a corrupção, levaram a que o povo não defendesse a União.
Fala-se em “forma rápida”, no entanto e apesar de tudo o que atrás é dito, em 1993 Ieltsim manda bombardear o parlamento russo que o tinha demitido e se opunha à sua politica, causando a morte a 300 pessoas.

Hoje a grande maioria dos povos que vivem nos países da antiga URSS manifestam-se em sondagens com saudades da União, mas isso não interessa aos defensores do sistema.

Para além destas questões todas, há uma questão que o post coloca, é a de que o capitalismo não tem futuro e que há que procurar alternativas.
Seria estúpido hoje, como ontem, procurar repetir ou imitar modelos de sociedade. Na América latina há vários países que procuram hoje novos caminhos para o socialismo, cada um à sua maneira, desmentido aqueles que como tu Silvares, acreditam que o capitalismo é o fim da viajem.

Anónimo disse...

So o Parlamento descobre estes dois...LOL

Mas gostei da discussão, muito bom nível, muito silogística....e algum malabarismo.

Olaio: mudar as palavras não muda a realidade.

Silvares: "conversa mole", de facto, não muda a realidade mas evita a passividade perante a injustiça.

"Amanhã sentar-me- ei á secretária para conquistar o mundo;
mas só comquistarei o mundo depois de amanhã"

Fernando Pessoa