quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

In absentia

Há por toadas as auto-proclamadas “democracias do mundo civilizado”, um aumento e intensificação de politicas que ofendem objectivamente os direitos das populações, gerando ondas de descontentamento que crescem na mesma proporção.

O capitalismo não integra no seu código genético a capacidade de gerir as necessidades das populações, na medida em que isso influi directamente com os interesses conjunturais dos grupos económicos. A perspectiva capitalista assenta principalmente sobre a acumulação de riquezas em franjas da classe dominante, que inclusivamente se digladiam entre si.

À medida que estes interesses vão cimentando o seu domínio económico sobre a distribuição da riqueza, a restante população vai sendo limitada nos seus direitos materiais: do trabalho e da habitação à alimentação, passando pelo acesso à educação e à saúde. Para conter o crescente descontentamento que tal situação provoca, as ditas “democracias modernas e civilizadas” exercem a mais forte diversão sobre as massas, no sentido de as alhear da realidade material, projectando o pensamento colectivo para a esfera do idealismo.

No entanto o poder sabe bem que não basta limitar no plano das ideias a capacidade criativa das massas: é preciso limitá-la no plano material.Além dos retrocessos civilizacionais que representam as retiradas de direitos, a diminuição dos salários, as privatizações, os actuais governos, independentemente de estarem nas mãos dos “socialistas” ou “sociais-democratas”, “liberais” ou “conservadores”, esquerda” ou “direita” (nas suas concepções vazias), criam todas as condições para a adopção do estado policial como forma paradigmática do Estado.

In presentia, os governos propõem a criação de um estado que dispõe dos mecanismos tecnológicos necessários à investigação criminal através do cadastro global das comunicações e transferência de dados entre todos. In absentia, os governos lançam a passadeira para um estado policial que se vai desenhando como raiz de uma nova forma de fascismo.

Via Império Bárbaro

12 comentários:

Silvares disse...

Parece-me evidente que a luta de classes é uma realidade bem actual. O sistema capitalista interpretado pelos chineses vem rebentar completamente com o nosso modo de vida. A coisa está a ficar cada vez mais preta.

Anónimo disse...

...intelectualizemos. Repórter estrábico ao Poder!!!

Anónimo disse...

Começo por dizer que me parece que o Estado Policial é um atributo dos governos dos "democráticos" Chavez e Fidel Castro, pragmaticamente falando, claro. Depois existem algumas contradições no texto. Por exemplo, é dito que os capitalistas apostam no "retrocesso civilizacional"; o que não é dito é que foi graças ao capitalismo que existiram avanços civilizacionais importantes.
Os tais capitalistas não sabem mesmo o que querem...

Olaio disse...

Vasco da Gama
Se não o preocupa a aprovação de uma lei do jornalismo, que entre outras coisas acaba com o direito de protecção às fontes.
Se não o preocupa o facto de se ter aprovado uma lei, que permite guardar as comunicações de toda a população durante um ano.
Se não o preocupa uma lei, que obriga os partidos políticos a entregar o nome de militantes seus às autoridades.
Se não o preocupa a fobia securitária à pala desse terrível perigo que é o terrorismo.
Se não o preocupa determinadas atitudes e actividades prepotentes da ASAE.
Se não o preocupa esse espalhar de câmaras por tudo quanto é sítio público e o alastrar da privatização desse mesmo espaço público.
Se nada disto o preocupa… estamos conversados!

Se acha que o trabalho não deve ter direitos e isso é progresso.
Se acha que não devem haver contratos de trabalho e isso é progresso.
Se acha que não devem haver horários de trabalho e isso é progresso.
Se acha que o estado não deve assegurar a reforma de quem trabalha uma vida inteira e isso é progresso.
Se acha que o estado não deve assegurar o direito à saúde a todos os cidadãos e isso é progresso.
Se acha que o estado não deve assegurar a educação aos putos e isso é progresso.
Se acha que o estado não deve assegurar o direito à justiça a todos os cidadãos e isso é progresso.

Se acha tudo isso e acha que é progresso…então estamos conversados!

Anónimo disse...

(???)Democracia cada vez mais Democrática.

Silvares disse...

Eh lá, Olaio,fazes-me lembrar aqueles gajos da Vida de Brian que perguntavam: "O que é que nos deram os romanos?" e dizia um lá atrás, "as estradas", "pois, e além das estradas?", "os aquedutos", "sim, mas além das estradas e dos aquedutos o que nos deram os romanos?", "os banhos públicos", e por aí fora, até a lista ser tão extensa como o rol de asneiras do governo do Sócrates.
O capitalismo selvagem é uma filha da putice (até são várias filhas da putice!) mas isso não me faz suspirar por sistemas ao estilo absolutista iluminado sul-americano.

Anónimo disse...

Olaio

Eu sei que nos estados "democráticos" de Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Irão, China (desculpe lá se me esqueci de algum, mas certamente que fará o favor de me lembrar!), todas essas actividades condenáveis se fazem sem que se necessite de nenhuma lei que as regule.
Também aceito que o Olaio não considere terroristas aqueles que se entretêm a destruir o nosso modo de vida levando atrás deles alguns inocentes. Afinal com um pouco de sorte eles só querem matar americanos – para alguma coisa os homens hão-de servir, certo?
Quanto aos direitos que refere aconselho-o e rever um pouco a história. Talvez venha a descobrir coisas curiosas sobre o sistema que instituiu esses mesmos direitos. Talvez se surpreenda a si próprio.

Olaio disse...

Silvares, obrigado por teres resolvido uma duvida com que andava:
- Onde raio me teria inspirado para fazer o comentário anterior?
A questão tá resolvida foi nessa magnifica obra dos Monty Python.

Agora digo-te umas coisas, o Sócrates não faz asneiras, tás enganado, aquilo não são asneiras, são politicas, são programas, são estratégias muito bem defenidas. Essa ideia de que é falta de geito, ou asneira, só serve para a seguir levares com uma espécie de Rui Rio, ou Luis Filipe Menezes, até o pessoal dizer que também esse, coitado, não tem jeito… mas entretanto os “Belmiros de Portugal” vão-se enchendo!

Quanto aos teus suspiros ou não suspiros pelos Sul-americanos, era bom que esclarecêssemos umas coisas:
Defender o direito de cada povo escolher a forma de se governar, independentemente da vontade do Império, direito à diferença, fora deste pensamento único que os neo-liberais e neocons querem impor, é uma coisa, outra coisa é desejar para nós um sistema semelhante.

Não sei se reparas-te, mas na discussão que tivemos no post anterior, tive o cuidado de começar por essa questão. Ninguém está aqui a querer copiar nada, cada povo constrói as suas próprias formas de viver em democracia. Era bom que esta questão ficasse clara para avançarmos no debate das ideias.

É fácil tentar justificar todos os nossos problemas e todas as atitudes criminosas destes governos, em contraposição com uma realidade que nos está distante e que na sua maior parte nos chega completamente deformada, através dos meios de comunicação que estão nas mãos dos “Belmiros deste mundo”.
Por isso era bom que não reduzíssemos a discussão a essas dicotomia traiçoeiras.

Olaio disse...

VG, o seu comentário é bastante elucidativo.
“Também aceito que o Olaio não considere terroristas aqueles que se entretêm a destruir o nosso modo de vida levando atrás deles alguns inocentes.”
A hipocrisia desta afirmação é extraordinária!
Então e se se matar centenas de milhares de inocentes, para sustentar o “nosso modo de vida”, já está tudo bem? E que nome dar a essas pessoas?

Talvez você não saiba mas esses terroristas, que já o eram, quando os americanos (e provavelmente você) os consideravam “combatentes da liberdade” no Afeganistão, foram criados com o apoio dos americanos, a família Bin Laden era amiga da família Bush, curioso não é?

Mas você demonstra ser um bom conhecedor das ideias (duas ou três) dos neocons, quando justifica todos estes ataques à liberdade com a ameaça do terrorismo. Para si e para eles, esse facto justifica que os coitadinhos dos americanos que são só a maior potencia militar, destruam países, roubem as suas riquezas, matem centenas de milhares de pessoas, prendam milhares de pessoas sem culpa formada, sem fornecerem a sua identificação e sem limite de tempo. Com o apoio das “democracias” ocidentais, torturem da forma mais brutal, escutem toda a população americana e mundial, que em Portugal e na Europa se limite a liberdade dos cidadãos.
Tudo isto justificado pela ameaça de um grupo terrorista criado pelos EUA e amigos.

No entanto, Cuba um país da dimensão de Portugal, que é ameaçado pelos EUA a maior potencia militar, não tem o direito de tomar medidas de defesa da sua soberania, nem de prender pessoas que são pagas, facto público, por organizações americanas! Mesmo que a viver sem problemas nos EUA, esteja Luís Posada Carriles um dos responsáveis por um ataque terrorista a um avião cubano que provocou a morte de dezenas de pessoas, num período em que outros grupos terroristas criados pelos americanos, levaram a cabo vários atentados bombistas em Cuba
Extraordinário!

Quanto aos direitos a que me referi, eles foram conquistados com a luta dos povos e principalmente dos trabalhadores. A jornada de trabalho de 8 horas, custou a vida de dezenas de trabalhadoras americanas. As férias pagas foram obra do governo de “unidade popular” nos anos 30 em França. E todos os restantes avanços civilizacionais foram adquiridos depois de se terem tornado realidade na URSS, aliás o factor fundamental no salto civilizacional que a humanidade deu no século passado foi a revolução de Outubro.

Talvez esteja esquecido ou ainda não lhe tenham dito, mas Martin Luther King morreu em 1968 (há 40 anos!), lutando pela direitos e dignidade dos negros.

Olaio disse...

VG, o seu comentário é realmente extraordinário, atentemos na frase:

“todas essas actividades condenáveis se fazem sem que se necessite de nenhuma lei que as regule.”

Então e se houver uma lei que as regule, o caso fica solucionado?

Se para se torturar, basta aprovar uma lei que permita a tortura, então aprove-se a lei e o caso está resolvido! Venham eles que o pessoal aqui está para lhes sacar as unhas a alicate.

Esclarecedor.

Anónimo disse...

Ena pá! A URSS! Gostei da referência. A URSS do KGB, dos Gulags, das Purgas, do Partido Único, das deportações para a Sibéria, enfim de muitas mais liberdades que agora seria enfadonho referir.
Mas, não desepere Olaio; o Alentejo ainda há-de ser vosso outra vez...

Olaio disse...

VG, você não só demonstra conhecer as duas ou três ideias dos neocons, como revela estar imbuindo do espírito e da filosofia neocon.

Filosofia essa que vai beber a sua essência à cultura japonesa de criação de bonsais, com a redução ao mínimo de uma árvore, ou às gueixas na redução dos seus delicados pezinhos. Os neocons tentam reduzir o pensamento ao mínimo, o óptimo seria não ter nenhuma ideia, Bush é sem duvida o seu grande Guru, manifestando grande mestria no domínio do pensamento mínimo, tirar daquela cabeça um pensamento é pior que encontrar uma agulha num palheiro, confesso que você demonstra grandes qualidades, se for, como penso, ainda jovem.

No entanto dou-lhes um conselho, tenha cuidado, não ande a mostrar essas qualidades por ai, senão ainda vai parar a secretário de estado ou gestor de uma empresa, ou quem sabe…se o Sócrates ou o Filipe Menezes souber da sua existência, ainda pode ir parar a ministro. Acautele-se pois.

Mas agora no que me diz respeito, acho que vou ficar por aqui nas respostas, é que estar a tentar discutir ideias com alguém que só sabe debitar frases feitas, preconceitos e banalidades é muito pouco estimulante. Ainda se você fizesse um esforçozinho para debitar qualquer coisa parecida com um pensamento, como fez no comentário de 25 de Janeiro.

Vá lá faça um esforço!