quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Se tu me esqueces

Quero que saibas
uma coisa.

Tu sabes como é:
se contemplo
a lua de cristal, os ramos rubros
do Outono lento na minha janela,
se toco
ao pé do lume
a impalpável cinza
ou o corpo enrugado da lenha,
tudo a ti me conduz,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
em direcção às tuas ilhas que me esperam.
Ora bem,

se a pouco e pouco deixas de amar-me,
deixarei de amar-te a pouco e pouco.
Se de repente
me esqueceres,
não me procures,
que já te haverei esquecido.
Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que percorre a minha vida
e decidires
deixar-me à margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
nessa hora,
levantarei os braços
e as minhas raízes irão
procurar outra terra.
Mas

se em cada dia,
em cada hora,
sentes que a mim estás destinada
com doçura implacável.
Se cada dia em teus lábios
nasce uma flor que me procura,
ai, meu amor, ai, minha,
todo esse fogo em mim se renova,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor do teu amor se nutre, amada,
e enquanto viveres continuará nos teus braços
sem abandonar os meus.

Pablo Neruda
in "Os versos do capitão"



1 comentário:

Anónimo disse...

Aos Nerudas e ás Matildes:

Essa Matilde que te amou
Ditosa musa que em ti viveu
Que na pele da tua pele se tornou
intensa e languidamente.
Que mistérios ? Em quê diferente?
Para que eternamente
com verdade ou utopia
Viva hoje e sempre
em ti e na tua poesia