terça-feira, 19 de agosto de 2008

Deus nunca viu isto

Deus nunca viu isto
Por isso não sabe que os seres se transformam
E o horizonte incandescente
São amores urgentes, inevitáveis
De gentes que formam a luz suave da poeira cósmica.

O teu sexo sabia a alcachofra
E depois a orégãos
Nos caracóis com cerveja
De uma escaldante tarde de verão.
Sufocando sorria o teu ser.
Os beijos mercuriais
Dos teus lábios de algodão
Saravam as feridas da minha boca
Como gotas de chuva em terra dessecada, sedenta.

Eu vi o pôr-do-sol mais etéreo
Num planeta distante.
Uma bola quente, cheia e rubra
Que explodia em vermelhos, laranja e amarelos
Poeiras brilhantes formando planos longínquos
Rubis desmaiando nos braços do horizonte.

Eu queria ser a melhor fotógrafa do mundo
E ter-te comigo para imortalizar
Este momento de felicidade
Num pedaço de papel
Não maior que as nossas mãos.

O verde dos pinheiros escurecia
Os azuis celestes acinzentavam
Acariciando laivos de violeta.
E desatou a chover.

Os corpos sobre o prado florido
Sob um aguaceiro descontrolado
As narinas dilatadas
O cheiro da terra molhada
Gotas de chuva
Escorrem como beijos minéreos e cristalinos
A pele fresca de rosmaninho e feno

O sol contra a água serena dos arrozais
Como os teus olhos de verde e prata.
A água doce
Que me veste
Seda estampada
De efémeras borboletas multicolores

Adiante a luz colorida rastejava
Por entre os troncos das árvores
Que eram já só sombra
Como homens que se escondem.

Seguia
De encontro ao fim da tarde veloz.
Tudo era um pedido para parar
Contemplar, ficar…
Mas queria ir…
Apanhar o sol que fugia
E mais à frente era já outra luz
Outra cor
Outra descoberta.
Corria veloz
Atrás das ideias
Que um eco me devolvia
Para não morrerem.
E assim falava sozinha
E repetia:
Rubis que desmaiam nos braços do horizonte,
Suave poeira cósmica,
Sabor a alcachofra,
Sobre o prado florido,
Coberta de água de seda com borboletas estampadas,
Multicolores,
Cores,
Beijos…
Escurecia
Feliz este fim de tarde
E eram já fotos a preto e branco

Helena

6 comentários:

Olaio disse...

Magnifico poema de luz, cor e movimento terminando num sereno pôr do sol.
Gostei e gosto!

Anónimo disse...

Fico sem palavras, fascinada com a corrente caudalosa das emoções e espanta-me saber porquê, e que afinal há um motivo para o sofrimento.

jorge disse...

"O teu sexo sabia a alcachofra/
E depois a orégãos"... Alguém confundiu uma queca com uma pizza?

Silvares disse...

Chiça penico!

L disse...

"Dos teus lábios de algodão
Saravam as feridas da minha boca"
Pizza?
Já agora a Betadine, não?

Silvares disse...

Olha quem ele é. Tudo bem Senhor Lazpa Mister Cllis? Belo poeminha, hein?