A primeira página do DN de hoje (20 de Junho) é bem a imagem do país mais desigual e desumano que vamos tendo. Enquanto que o grande título nos informa que os produtos de luxo escapam à crise, artigo onde se podem ler afirmações como:
“Luxo é sumptuosidade, extravagância e exclusividade.”
"O luxo começa quando a emoção ultrapassa a razão", diz Pedro Miguel Costa, administrador da Loja das Meias. E compradores emotivos e endinheirados parece não faltarem, tendo em conta o aparecimento de um crescente número de lojas de artigos de grandes marcas em Portugal. Ao contrário de outros, "este é um mercado em rápida expansão em todo o mundo".
“Adquirir um produto de luxo é um estilo de vida, um mundo que alimenta a fantasia de cada um. Comprar uns sapatos que ultrapassam, por exemplo, a barreira dos mil euros é comprar uma emoção.”
“Por vezes, é uma fuga ao stress do dia-a-dia. Esta franja de clientes, para quem a palavra "crise financeira" não existe, vive fiel a este mundo de marketing, de ambientes de lojas especiais, de atendimento característico e exclusivo, onde se criam emoções e ilusões.”
"As pessoas são cada vez mais sensibilizadas por determinados ícones. Entram nas lojas à procura de uns sapatos que uma actriz usou num filme.”
“O próprio conceito de emoção tem de ser alimentado por novos produtos. Daí que os hábitos de vestir também tenham de variar. Quem hoje aparece mais formal, amanhã pode vestir-se num estilo desportivo.”
“Dentro da venda de artigos de luxo, os acessórios têm um papel de destaque e são mesmo um departamento que tem estado em grande crescimento. Pois é mais fácil comprar uma carteira que custa 1500 euros do que um tailleur pelo mesmo preço.”
"Quem vai à loja compra um sonho, pois fazemos produtos intemporais que acompanham o cliente para o resto da vida e, por vezes, até saltam gerações."
Em baixo à esquerda desse artigo está um outro título em letras menores mas muito mais dramáticas, que fala de gente sem direito a sonhos e ilusões: "Portugueses gastam mais com a saúde”, podendo-se ler no artigo:
“As famílias portuguesas são as que, na União Europeia, maior fatia dos seus orçamentos gastam em despesas de saúde (6,1%), revela um relatório do Eurostat divulgado ontem. Os dados colocam ainda os portugueses em quarto lugar, entre 27 países, na lista dos que maior fatia do ordenado aplicam no ensino.”
Quantos serão aqueles que adquirem produtos de luxo como estilo de vida, alimentando as suas fantasias, comprando sapatos que ultrapassam a barreira dos mil euros para comprarem emoções, e o fazem à custa do empenhamento de milhares de seres humanos que têm que viver na mais profunda angustia para sobreviver com os seus, tendo que gastar cada vez mais dinheiro com a saúde.
Quantos portugueses, muitos deles trabalhadores ou reformados serão precisos para ganhar os 1500 euros que um destes indigentes gasta num acessório só para se dar ao luxo de afirmar um “estilo de vida”?
Será que isto não tem nada a ver com direitos humanos?
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1 comentário:
Este desconforto vai acabar por ditar a desgraçada falência do sistema. A Democracia, como se pode constatar pelo exemplo que aqui trazes, está de rastos, não funciona. Como vai ser?
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