A semana passada estive uns dias de férias em Roma e Veneza, nestas viagens uma coisa que me encanta é a mistura de nacionalidades de culturas e cores, que falando distintas línguas se conseguem entender numa mistura de sons, gestos, trejeitos, esgares e olhares.
Num dos meus passeios nocturnos por Veneza, dei por mim a atravessar a Ponte Degli Scalzi junto à estação de comboios, à minha frente seguia um grupo de quatro muçulmanos, coisa que se percebia pelo facto de as três mulheres do grupo usarem véu, de repente passa por mim um chavalo de mochila às costas e nitidamente embriagado, que ao passar pelos muçulmanos vocifera qualquer coisa como: “fuck muslams!”
Não percebi se o chavalo era italiano, inglês, americano, francês ou português, não sei se o grupo ouviu o insulto ou se o preferiu ignorar, optando por dar atenção a coisas mais interessantes, o que me parece é que situações destas se multiplicam e generalizam por esta Europa e pelo mundo, acentuando um clima de confrontação e desconfiança entre povos e culturas.
É a vitória dos fundamentalismos, tanto dos “deles” como dos “nossos”, sejam eles islâmicos, cristãos, (neo)conservadores, (neo)liberais. A vitória da intolerância!
É igualmente o resultado da cínica e covarde atitude daqueles que se dizendo contra fundamentalismos, acham contudo que nos devemos unir aos “nossos” fundamentalistas (administração bush) para combater os “outros”. Dizem que é para defender os “nossos” valores, como se o fundamental dos nossos valores não fosse a tolerância a abertura a novas culturas a novos mundos.
É a vitória do capitalismo, transvestido de neoliberal, fomentando um artificial conflito cultural e religioso, para esconder e desviar as atenções do verdadeiro conflito que é o de classe: entre aqueles que detém os meios de produção e os que só têm a sua força de trabalho física ou intelectual para vender.
Após séculos de civilização, a cultura e a religião não são nem, devem ser elementos de confronto entre os povos, antes pelo contrário, são elementos de riqueza para todos, é aquilo que leva milhares de pessoas a passear pelas vielas, becos e canais de Veneza, a entrar nas igrejas de Roma, nos templos dos antigos deuses romanos, seja os visitantes chineses, árabes, americanos ou portugueses, que tão orgulhosamente deram novos mundos ao mundo.
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2 comentários:
Essa intolerância está a instalar-se pesadamente em toda a Europa.
Insisto na tese de que a intolerância é mais de natureza económica do que étnica. Os ricos não têm cor. São todos transparentes.
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