sábado, 23 de agosto de 2008

Terrorismos II

Neste post, chamei a atenção para o facto de haver companhias de aviação que descuravam a segurança por razões económicas, realidade que me pareceu demasiado evidente, depois de na sequência do acidente aéreo no aeroporto de Barajas, assistir na SIC noticias às entrevistas que eram feitas a várias pessoas ligadas à aeronáutica, e à insistência com que a pergunta sobre se, as companhias por razoes económicas não descuravam muitas vezes as condições de segurança? Facto que considero gravíssimo e comparável a actos de terrorismo.

Na sequência desse post, alguns leitores deste blog, consideraram um abuso e “demagogia de mau gosto” estar a inferir tal das entrevistas da SIC noticias. Ontem a TSF dava com grande destaque a seguinte noticia:

«Os trabalhadores do aeroporto de Madrid denunciaram (…) várias situações de falta de segurança e pressões nos aeroportos, frisando que há dias em que não sabem como é que os aviões partem. «Tudo se arranja com fita-cola e silicone».


Os trabalhadores, denunciaram várias situações de falta de segurança e pressões para colocar aviões no ar mesmo em condições deficientes.

Perante a falta de respostas oficiais sobre o acidente de quarta-feira com um avião da Spanair, vários trabalhadores do sector, citados pelo jornal espanhol El Mundo, apontam como possíveis causas falhas no serviço de manutenção, provocadas pela necessidade de poupar custos.

«O que devemos perguntar não é o porquê deste acidente, mas antes como é que é possível que não aconteçam mais», disse um trabalhador e ex-delegado sindical da espanhola Ibéria, alertando que «a manutenção dos aviões» foi reduzida nos últimos anos de uma «forma preocupante».

«O avião tem de sair, aconteça o que acontecer», já que «a única coisa que conta é a pontualidade e encher aviões, acrescentou, frisando que não raras vezes as aeronaves saem com «avarias menores» como portas de emergência que não abrem. «Tudo se arranja com fita-cola e silicone», ironizou.

No entanto, o diário espanhol cita ainda alguns trabalhadores que manifestam uma opinião diferente. «A magia existe não só na Disney, mas em todos os aeroportos do mundo», disse Montse, ex-funcionária da Spanair.»

Será que perante esta notícia e outras que têm aparecido no vários noticiários, os “advogados de serviço” das empresas aeronáuticas continuam a pensar que supor que há algumas delas que praticam terrorismo é demagogia?

4 comentários:

Silvares disse...

Já sabemos que a base do sucesso do capitalismo é uma espécie de terrorismo social.
Embora a imagem me pareça desajustada (o grande capital detém a força suprema numa sociedade dominada por princípios económicos a haver terrorismo seríamos nós, os trabalhadores, a praticá-lo dada a diferença de recursos para a luta)é útil lembrar que a luta de classes nunca acabou, apenas vai mudando o campo de batalha. O proletariado e o campesinato estão em vias de extinção no mundo ocidental? Não será por isso que a luta de classes desaparece uma vez que essas classes se mantêm com alguns retoques de cosmética social.
Que o capital é guloso é uma verdade universal e que, na sua gula come tudo, incluindo vidas inocentes em nome do sacrossanto lucro, todos sabemos.
Parece-me apenas que a ideia de terrorismo das companhias aéreas é algo desajustada, como referi acima. Eles não sabotam deliberadamente os aviões, não estão interessados em provocar acidentes. É mais do género de provocar "danos colaterais" na sua batalha pelo lucro. Mas, num caso como este, a Spanair acaba de perder a guerra. Não me parece que a companhia sobreviva a um escandalo destes. Mataram a galinha dos ovos de ouro? Mataram! E mais cento e não sei quantas pessoas. Que paguem pelo crime negligente cometido. Que paguem com tudo o que têm e com o que não têm.

jorge disse...

Esta conversa já cheira mal e quase sou forçado a assumir posições de que não gosto devido à obstinação, à falta de outra palavra, do jornalista de serviço ao blog. O que o autor deste post pretende é estabelecer uma relação directa entre críticas feitas na generalidade e a tragédia que ocorreu em Barajas. No entanto, como disse e mantenho, nada ainda está provado. Pretender o contrário é demagogia pura. Que é uma forte hipótese o acidente ter acontecido pelos motivos invocados pelo Olaio não tenho a mínima dúvida. Que o lucro é responsável por alguns dos piores crimes cometidos contra a espécie humana, também não. Que as companhias aéreas sacrificam a segurança dos seus passageiros para acrescentarem alguns milhões de euros no seu Relatório e Contas no final do ano sem pestanejarem, ainda menos. No entanto, citando a notícia referida pelo autor do post gostava de destacar que as causas continuam por esclarecer. Passo a citar " vários trabalhadores do sector ... apontam como possíveis causas falhas no serviço de manutenção, provocadas pela necessidade de poupar custos." No meu dicionário, "possível" siginifica algo que pode ou não acontecer, ou neste caso, ter acontecido. O que me incomoda é o incansável afã do Olaio em encontrar razões para a abjuração de tudo o que, nos seus severos (?) padrões morais, é condenável. Só isso. Convém também lembrar que a diferença entre um terrorista e uma companhia aérea criminosa, continua a ser pertinente e que as comparações entre estas realidades são desajustadas. É a diferença entre o júbilo e a condenação moral, Olaio, junto das respectivas comunidades. Ah, é verdade, não me considero "advogado de serviço" mas oráculo é que não sou com certeza.

Olaio disse...

Concordo contigo Silvares e tal como tu, acho estapafúrdia a ideia de que os capitalistas sabotem deliberadamente aviões, é mais a história da galinha dos ovos de ouro.

Jorge estás enganado, não pretendo “estabelecer uma relação directa entre as criticas feitas na generalidade e a tragédia de Barajas”, aquilo que pretendo fazer é, realçar as afirmações de muitas pessoas que trabalham na aviação civil, para chamar a atenção de uma prática que pelos vistos é usual em empresas dessa área e que para mim são iguais a terrorismo.

No fundo o que eu digo é só aquilo que tu afirmas: “as companhias aéreas sacrificam a segurança dos seus passageiros para acrescentarem alguns milhões de euros no seu relatório e contas no final do ano sem pestanejarem”.
Só não percebo é que não consideres tal como terrorismo, nem percebo essa coisa da “diferença entre o júbilo e a condenação moral, junto das respectivas comunidades”. Será uma nova definição de terrorismo?
“Severos padrões morais” ?? eu ?? Quer dizer, acabas por afirmar o mesmo que eu e achas que os tipos que fazem isso não são criminosos???
Desculpa que te diga mas parece-me que andas com uns “levianos padrões de imoralidade”.

É claro que em relação ao acidente de Barajas não faço afirmações sobre o que sucedeu, nem pretendo fazer nenhum exercício de adivinhação.

Olaio disse...

Noticia o Público on line:

"O Sindicato Espanhol de Pilotos de Linhas Aéreas (SEPLA) enviou desde Abril do ano passado, durante mais de um ano, cartas à direcção e à presidência da Spanair a alertar para o facto de o caos e a má gestão poderem afectar a operação da empresa, pondo em risco a segurança dos voos."

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1339990&idCanal=62