segunda-feira, 31 de março de 2008

Afinal não são só terroristas

As luzes são fluorescentes, o cenário é colorido, há música em alto volume, e a audiência interrompe para aplaudir quando se entusiasma. No final, os concorrentes ouvem um veredicto do júri, e o público que não está presente pode votar por SMS no seu favorito. O vencedor ganha um prémio milionário.

O Poeta dos Milhões é um programa de uma estação de televisão de Abu Dhabi que está a ter uma atenção inusitada e um sucesso pelo mundo árabe que tem atraído concorrentes de locais desde o Iémen à Mauritânia. Todas as terças-feiras, cerca de 70 milhões de telespectadores por todo o mundo árabe vêem os concorrentes recitar poesia tradicional. Escrevem no estúdio e competem por um prémio de um milhão de dirhams (mais de 176 mil euros).Quem não viu a emissão ao vivo pode ver vídeos no YouTube (para quem não fala árabe, pode procurar por Million"s Poet).

A ideia é ressuscitar a poesia nabati na televisão, este tipo de poesia é diferente da clássica ou erudita; usa um árabe mais coloquial e é tradicionalmente de expressão oral, uma arte nas tribos nómadas beduínas desde o século IV, servindo para elogiar a tribo, fixando a sua história ou para transmitir conselhos ou notícias. Muitos dos concorrentes vêm de tribos beduínas de zonas pobres.

A primeira edição já terminou, a segunda vai a meio. Cerca de sete mil pessoas - incluindo algumas mulheres - candidataram-se à participação no programa na primeira edição. Foram seleccionados 48, que puderam declamar os seus poemas ao vivo. Estes são de tema livre, na primeira parte do programa que tem um total de duas horas. Na segunda parte, há um tema dado pelo júri - já foram propostos tópicos como camelos, café ou o respeito pelos pais.

"Este programa tem estado a ter mais audiência do que o futebol. Mais do que o futebol - conseguem imaginar isso?", espantava-se um concorrente de 33 anos da Arábia Saudita, Mahdi al-Wayli, citado pelo Times.
No Iémen, o concorrente iemenita Abdulrahman Al-Ahdal, que venceu duas "medalhas" no concurso, regressou a Sanaa para receber uma distinção do ministro da Cultura, escreveu o Yemen Times (em inglês).
Abdulrahman Al-Ahdal tentou explicar o segredo do seu sucesso num dado poema, A filha do arabismo. "Combinei dialecto do Golfo, dialecto iemenita e árabe standard. Enquanto o escrevia chorei, e quem o ouviu também. Usei árabe, linguagem do Corão e dos que procuram o paraíso", contou.

2 comentários:

Anónimo disse...

Fantástico. Finalmente alguém gasta algum tempo c boas noticias!

Anónimo disse...

Vivam os Aleixos do Povo Àrabe!

Para que não rimem Morte com Má Sorte, Rancor com Dor, E. Unidos com Vencidos, Deflagrar com Amordaçar ... mas sim Religião com Perdão, Liberdade com Fraternidade e Poesia com Alegria.

...Todo o tempo é tempo de poesia
Desde a névoa da manhã
á nevoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia"..

António Gedeão