segunda-feira, 24 de março de 2008

Sobre a história do Tibete

Quando, no século XIII, o mongol Kublai Khan reunificou a China e fundou a nova e poderosa dinastia Yuan, o Tibete foi incorporado ao Império do Meio como uma de suas províncias. O italiano Marco Polo, que visitou a corte de Kublai Khan e registrou as observações de sua viagem, descreve o Tibete como uma das 12 províncias do império.Desde então, há 700 anos, o Tibete faz parte da China. Assim permaneceu nas dinastias Ming e Qing, que se seguiram. (…)A subordinação do Tibete aos sucessivos governos da China, (…) evidencia-se na presença de representantes do poder central em Lhasa; na nomeação e julgamento de funcionários locais; no envio de tropas para defender as fronteiras e manter a ordem interna; na condução centralizada das relações exteriores; na imposição de leis, decretos e regulamentos; na realização de censos demográficos; na cobrança de tributos; na redefinição de órgãos e divisões administrativas internas. É importante ressaltar também que, desde o século XIII, nenhum país reconhece o Tibete como um Estado separado da China.
Outra prova da incorporação do Tibete à China é a participação de delegados tibetanos em órgãos executivos e legislativos do poder central, desde a dinastia Yuan (…)

A China passou por fases de divisão e enfraquecimento do poder central, quando os governos locais, não só o do Tibete, adquiriam grande autonomia, muitas vezes estimulada por potências estrangeiras, interessadas em arrebatar fatias do território chinês.

Foi assim que a Rússia czarista ocupou uma parte da Mongólia e a dividiu em Mongólia Exterior e Mongólia Interior. Ou que o Japão invadiu a Manchúria e tentou restabelecer, sob seu controle, a dinastia Manchu dos Qing, derrubada pelo movimento republicano. Da mesma forma, a Grã-Bretanha, já senhora da Índia, do Butão do Sikkim e do Nepal, combinou seus ataques ao litoral chinês com a invasão do Tibete em 1888 e 1903 e com as tentativas de impor à China o Tratado de Lhasa e a Convenção de Simla.
A ocupação britânica do Tibete não vingou, mas a grande potência imperialista arrancou concessões e passou a estimular, entre lamas e nobres tibetanos, um movimento pela independência, isto é, pela separação do Tibete, para colocá-lo sob controlo ocidental. Após a Segunda Guerra Mundial e com o avanço da revolução popular na China, os Estados Unidos aderiram aos intentos britânicos, reforçando o movimento separatista com agentes, armas, treino, propaganda e apoio diplomático.

Ver aqui artigo sobre a história do Tibete.
Ver aqui post sobre o Dalai Lama

15 comentários:

jorge disse...

Desculpa lá, Olaio, mas este post é uma tristeza. Com que então 'Desde ... há 700 anos, o Tibete faz parte da China.'? Angola tb fez parte de Portugal desde o séc. XVI e no entanto tenho a certeza que apoiaste a sua independência, a 11 de Novembro de 1975. Neste caso o Dalai Lama, como repetidamente tem afirmado, nem sequer pretende um Tibete independente, mas apenas autónomo. O homem anda aflito para moderar os ímpetos dos mais jovens e até já ameaçou com a demissão! As voltas que dás para justificar a atitude da China! Decerto não o farias no tempo em que o PCUS era "vivo" e olhava com ódio para a China. Nessa altura "só" podia haver um género de comunismo, um sol na terra, mas quando as referências se volatilizam, vale tudo! Ficamos assim a saber que há colonizações "boas" e outras que são "más". Já o sabia acerca das ditaduras (Salazar e Castro), das invasões (EUA-Iraque e URSS- Checoslováquia) mas acerca das colonizações, não. Fico a saber. Só para concluir: lembras-te de Tianamen? Talvez também não tenha passado de propaganda americana....

Olaio disse...

Triste é a forma acéfala como por toda a parte se repete a cassete do “democrata” Dalai Lama, colocada a circular pelos mass media ocidentais.

Comparas tu a relação entre a China e o Tibete, com a de Portugal e Angola. Uma tem 500 a outra 700 anos, portanto mais ano menos ano é tudo a mesma coisa… só isso?
A história de Angola e a história do Tibete não interessa para nada, fiquemo-nos pelo formalismo das relações.
Como o mundo é simples.
A ignorância acerca da história do Tibete é normal, a maior parte dos meios de comunicação não perde um minuto a esclarecer essas coisas, prefere o ataque à China.

Mas digo-te, os casos não são nada semelhantes, a relação entre a China e o Tibete vem pelo menos desde o século VI e há uma grande diferença entre as relações entre dois povos que vivem lado a lado, que têm séculos de conhecimento mútuo, relacionamento social, interdependência cultural, económica, politica, familiar, religiosa (o Dalai Lama sempre foi nomeado pelo governo Chinês), e a história de Portugal e Angola, onde praticamente só existiu a imposição de regras de um ao outro, sem se ter minimamente em conta a cultura dos africanos.
Que comparação tão sem sentido.

Falas tu no pacífico Dalai Lama, que não tem nada a ver com isto, como se todos estes acontecimentos não estivessem mais que preparados para acontecer agora. Como se tudo isto não estivesse bem planeado pela organização religiosa de que ele faz parte?
Mas apraz-me ver-te defensor do budismo e de regimes teocráticos, não percebo é porque não gostas dos ayatholas?
Acaso sabes como era a vida no pacífico Tibete, nos tempos em que o Dalai Lama dirigia o regime feudal-teocrático?
Acaso sabes em que momento e porque razão, o pobre monge se rebelou contra os tiranos chineses?
Sabes porventura a que se deveu o breve período de relativa independência do Tibete (entre 1913 e 1951)?
Os britânicos terão alguma coisa a ver com isto?

Quanto às outras considerações, acho que não vale a pena perder tempo com elas. Já não tenho pachorra para esta mania de que quando se discute um assunto, se ir buscar sei-lá-o-quê que nada tem a ver, em vez de nos cingirmos ao que está em causa.

jorge disse...

Deve ser bom quando se tem a certeza sobre quem são os 'maus'. O mundo torna-se mais fácil de entender quando temos a certeza que os 'nossos' são intrinsecamente bons e os outros abominavelmente manhosos e cheios de inconfessáveis intenções. Nada como uma posição maniqueísta para nos situarmos no planeta. Assim nunca perdemos o rumo. E, se o perdermos momentaneamente, os 'nossos' ajudam-nos a reencontrá-lo.

samuel disse...

Embora correndo o risco de me mandarem "comer só as batatas", declaro para os devidos efeitos que não suporto o Dalai Lama.

Olaio disse...

Pois é Jorge, liga-se a RTP 1, RTP2,RTPN, a SIC, a SIC noticias, a TVI, Euronews, ouve-se a TSF ou qualquer outra Rádio, abre-se o Público, o Diário de Noticias, O Expresso, O Sol, lê-se os jornais gratuitos que às dezenas circulam por ai, ouve-se o professor Marcelo, o Pacheco, o Miguel… e em todos a posição é só uma: A China é má, o Dalai Lama é bom!

É claro que quem tem uma posição contrária a esta só pode ser maniqueísta, porque esta é uma verdade absoluta e santa.

Quando falas em como “deve ser bom quando se tem a certeza sobre quem são os “maus”…”, estás a falar de quem?
De quem não alinha com este pensamento único?

Mas já agora, se te perderes não te preocupes, liga a televisão, eles indicam-te logo o caminho!

Mas a intenção deste post é discutir a questão do Tibete, portanto quem tiver posição diferente e argumentos, é favor de avançar.

Anónimo disse...

Discutir a história do Tibete?
Não vale a pena, o Olaio já disse tudo e ele é o mestre da sabedoria de experiência feita.
Mestre, olhe que também pode estar errado!
Tem tanto a certeza das suas ideias então porque não vingam ?
Pois os media, pois claro.
Hã somos todos parvos, menos você, claro
Tantas certezas só podem revelar falta de autocrítica, uma grande arrogãncia intelectual e uma mente pouco arejada.
Claro que não vale a pena discutir, você é que sabe porque foi o PC que lhe disse.

Olaio disse...

há, já me esquecia deste:
"Os portugueses conhecem bem o Dalai Lama, com o seu permanente e acolhedor sorriso, a sua excepcional afabilidade."

Mário Soares, "Diário de Notícias", 25-03-08

Olaio disse...

Zé Neves, não sei se reparou, mas do que se está a falar é do Tibete, não de mim.
E sobre o Tibete tem alguma coisa de substancial a dizer?

jorge disse...

Sem querer entrar em mais polémicas (já bastam as que temos, Olaio...), fui ler o texto "Confira os mitos e os factos concretos sobre o Tibete" assinado por um sr. Duarte Pereira para a revista Princípios, através do link sugerido neste blog. Apenas confirma o unilateralismo da visão que dás. Já reparaste na quantidade de autores chineses, passando pela Embaixada da China (!) até à "OFICINA DE INFORMACIÓN DEL CONSEJO DE ESTADO", (chinês, acrescento eu) referidos pelo autor do artigo? Será isto que se considera uma informação isenta é fiável, só por que se opõe à propaganda ocidental? Imagino que um texto de um jornalista sobre, por ex, a invasão do Iraque, recorrendo à embaixada americana e a orgãos de informação estatais norte-americanos ou do governo iraquiano colaboracionista possa ter um tom idêntico. Do que se trata é da falta de uma informação isenta e da admissão de verdades absolutas inquinadas à partida pelos zelotas de serviço. "A verdade a que temos direito" tem, forçosamente, de ser mais do que isto... Já agora, detesto ver televisão...

Olaio disse...

Jorge, continuamos à volta da questão e a não trocar argumentos em relação ao que sabemos ou não da questão do Tibete.

Falas nos autores referidos pelo jornalista brasileiro, são 20, 13 deles chineses, 6 brasileiros e 1 americano.
Achas que é exagero a quantidade de chineses, provavelmente é, mas tratando-se de um assunto que diz respeito à China, também pode ser considerado normal.
No entanto há outras fontes e todas elas são referenciadas.

Repito que continuamos a falar de coisas acessórias que em nada colocam em causa o conteúdo do post.

Olaio disse...

Hoje de manhã, na SIC noticias, a presidente da secção portuguesa da Amnistia Internacional, falava no alegado genocídio cultural praticado pela China sobre o povo do Tibete, e um dos exemplos que usava para demonstrar tal, era a recente inauguração da linha de caminhos de ferro que liga Lhasa ao resto do mundo.
Segundo ela este facto vai fazer com que o Tibete seja evadido por estrangeiros, o Paulo Portas não diria melhor.

A senhora esqueceu-se que mesmo na China, as populações movem-se para onde a economia se desenvolve, logo, se outros chineses se deslocarem para o Tibete isso significa que a região se está desenvolver economicamente.

E não é isso que se deve exigir a quem gere os destinos dos povos?
No entanto há quem ache que isto é genocidio cultural.

Olaio disse...

Os mass média recorrentemente reproduzem a afirmação de que a China está a levar a cabo um genocídio cultural no Tibete, sem desenvolverem a questão, deixando propositadamente ficar no ar a dúvida.
Eis alguns dados que permitem perceber o problema:

A população no Tibete cresceu de 1959 até agora, de um milhão para 2,4 milhões, 95% dos quais são Tibetanos. A esperança de vida de 35,5 anos para 67 anos. A taxa de escolaridade cresceu de 2% para 81,3%.

Anónimo disse...

Falamos do Tibete, ou da prepotência da suposta razão?

O povo de Tibete quer a autodeterminação e nisso são soberanos.
Acima de tudo a Liberdade dos povos, hoje e sempre.

Anónimo disse...

Caros amigos
É agradável seguir a vossa animada discussão, é sinal de que não são indiferentes ao que acontece no mundo, e que de alguma forma a todos afecta.
Imagino o quanto de “provocação” encerra este debate, e não querendo ser árbitro, acho que os argumentos do Olaio fazem mais sentido. Ele manifesta-se com ideias, e defende-as com razões subjacentes.
De facto, não me parece que historicamente o caso do Tibete tenha qualquer semelhança com a colonização de Angola.
Claro que os tibetanos, têm tanto direito a ser livres como qualquer outro povo, mas o que me parece é que estão a ser usados como factor de destabilização, na luta dos interesses ocidentais contra o dos chineses. Não me digas, Jorge, que acreditas não serem os EUA e os seus aliados, que estão a fomentar os tumultos, que vêm aliás na altura indicada. Até o “camarada” Nuno Rogeiro dizia anteontem na SIC, que tudo isto talvez seja por razões destas, e se calhar, porque os Jogos Olímpicos estão à porta.
Usando o mesmo tipo de argumentação que usaste, Julgas que não foram os “maus”, que puseram o Pinochet no Chile, derrubando um governo democraticamente eleito? Que estão a matar milhares no Iraque em nome da democracia, (se quiseres ler petróleo ficas mais próximo da verdade) e não vale a pena citar mais casos, senão encho a página. As mentes muito arejadas, sujeitas ao esvaziamento devido à ventania, tendem a deixar de lado estes pormenores.
Claro que me vais dizer que os “bons” também o fazem, e vamos cair no tal maniqueísmo. E aqui, voltamos à tal situação que é definir o que cada um pretende, isto é, qual é o nosso lado da barricada.
Só que agora, a URSS já não é “viva”, a China, parece-me não ser carne nem ser peixe, portanto, só há “maus”. Porque serão os EUA tão amigos dos Tibetanos? Será porque por terem medo que os chineses afundem ainda mais o dólar?

Olaio disse...

Pois é Zé Neves, é bonito falar da “prepotência da suposta razão”, e de seguida afirmar com toda a autoridade: “o povo do Tibete quer a autodeterminação”.

Desculpe não sabia que estava mandatado pelo povo do Tibete para exprimir a sua vontade.

Mas vendo as manifestações dos Repórteres sem fronteiras (e sem escrúpulos digo eu), dos deputados do parlamento europeu, do Sarkozy, da Merkel, do Bush e por ai a fora, quase que seria tentado a dizer que, quem quer separar o Tibete da China são outros que não os tibetanos.

Aliás, o que a imprensa em geral diz, é que são monges tibetanos que se manifestam. Ora se tivermos em conta que a actividade de monge (qualquer religião que seja), é essencialmente parasitária, concluímos que não devem ser muitos a exercer tal função (3%?, 4%?), logo é mínimo o número de tibetanos a manifestar-se pela independência. A isso é preciso acrescentar, que nem todos os monges budistas alinham com o Dalai Lama.
Portanto parece-me que a sua afirmação é um pouco presunçosa.

Mas aquilo que diz o Dalai Lama é que, "não quer" a independência do Tibete, mas sim maior autonomia. Ora o Tibete é uma das províncias da China com mais autonomia e é sabido como os chineses são pródigos na criação de estatutos diferentes para diferentes regiões do país, facto que é mais que realçado internacionalmente, veja-se o caso de Hong-Kong, Macau, Xangai…
Portanto o problema não parece ser uma questão de autonomia, mas antes a de criar problemas à administração chinesa neste momento.

Já agora convém recordar, que os acontecimentos de há uma semana, bastante documentados com imagens, mostram grupos de indivíduos atacando lojas, edifícios públicos e outras estruturas, num claro ataque a outras etnias e religiões (Han, muçulmanos), o que é sinal do carácter racista e xenófobo desses grupos, facto que obrigou o Dalai Lama, a fazer o número de magoado e ameaçar que renunciaria ao cargo.