"Disse o ex-deputado (João Cravinho): primeiro, que a grande corrupção se considera impune e age em conformidade; segundo, que a legislação anti-corrupção não tem cereja em cima do bolo, nem cereja, nem mesmo bolo. O líder parlamentar do PS não perdeu tempo. Respondeu que o seu partido não recebe lições nesta matéria e menos ainda de quem deixou a meio o combate à corrupção. Uma galegada! Porque o PS sabe muito bem que Cravinho não deixou o combate a meio. Foi o PS que o empurrou pela borda fora, para uma prateleira dourada da Europa muito apropriada para gente incómoda. Comentando a polémica, o fiscalista Saldanha Sanches disse que a maioria PS tem em relação à corrupção “uma inépcia altamente suspeita”. Ou será uma eficácia suspeitosamente alta."
Entretanto , as prioridades de Paulo Portas e Teresa Caeiro são de outra ordem, o que não deixa de ser natural.
Ontem, em Vila Viçosa, segundo o Correio da Manhã, o líder do CDS anunciou que o partido vai pedir uma investigação a fundo sobre o funcionamento do Rendimento Mínimo, quando se reiniciarem os trabalhos parlamentares.
“Há um Portugal que trabalha no duro e outro Portugal em idade de trabalhar que vive à conta do Estado. Há um Portugal que paga impostos e há outro Portugal que recebe o Rendimento Mínimo” argumentou Paulo Portas, para quem “há ainda um Portugal que luta duramente todos os meses para pagar a prestação de uma casa e há outro que tem uma casa quase de graça e que ainda acha que pode ou que não deve pagar”, realçou ainda que “não é possível continuarmos a ter um Portugal que trabalha a custear outro que não faz o esforço suficiente para poder trabalhar”.
Não deixo de achar bem que sejam investigadas e corrigidas as irregularidades que se adivinham por detrás do dito Rendimento, mas parece-me também, apenas a defesa do tacho e dos respectivos colegas de comezaina, tamanha preocupação com esse desperdício de dinheiro, quando não põe a mesma ênfase no ainda maior esbanjamento de dinheiro, que são os chorudos ordenados dos nossos governantes (já sei que ganham tão pouco, tadinhos…) e dos gestores de empresas públicas que se auto aumentam de maneira escandalosa, enquanto impõem tectos salariais, ou aumentos escandalosamente insuficientes face ao aumento do custo de vida aos que realmente, na maioria dos casos, trabalham numa situação bem mais dura que a desses maiorais, e em compensação recebem ordenados de miséria.
É, de facto, na distribuição da riqueza, que se encontra a maior escandaleira (para não lhe chamar roubo instituído). É ai, nos seus variados cambiantes que se encontra o busílis de toda a questão.
Claro, que gente como Paulo Portas e Teresa Caeiro, que hoje, no mesmo jornal na sua coluna “Margem Direita" dizia: “É esta disparidade, tão visível, que dá a ideia de termos dois países: um que se esforça, outro que vive à conta sem precisar; um dos quinhentos mil pensionistas com 236 euros mês, outro de ociosos. “
Não se incluem no grupo dos segundos, mas incluem-se, quanto a mim, num outro grupo que, esse sim, leva a fatia principal do bolo nacional deixando, não a cereja do cimo deste, mas as migalhas para serem repartidas pela grande maioria.
Por isso, a tal polémica Cravinho, que Saldanha Sanchez comenta dizendo que: a maioria PS tem em relação à corrupção “uma inépcia altamente suspeita”. E João Paulo Guerra pergunta: “Ou será uma eficácia suspeitosamente alta?”
quarta-feira, 30 de julho de 2008
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3 comentários:
Realmente não há limites para a demagogia populista. São animais como o Portas que por vezes me fazem ter vergonha de ser português. Quanto aos ordenados dos gestores de empresas públicas eses canalhas calam a caixa muito bem caladinha. Pudera, amanhã podem ser eles a sentar lá a peidola pssando a viver de uma espécie de Rendimento Social Máximo. É o mundo de pernas pró ar!
Sobre o Cravinho, transcrevo parte do artigo do Baptista Bastos hoje no DN:
"Ele aceitou as regras do jogo, cedeu à pressão e acedeu a um cargo (indicado pelo PS) na direcção do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (???), mora em Londres e libertou-se do ofício de ser português em Portugal. Foi o que foi: hoje, é o que é. Este fardo não é meu. Cravinho pode aludir à ausência de independência dos outros, quando a sua não será tão virtuosa quanto seria desejável? É claro que nunca proclamou ser um homem justo; todavia, sempre o aparentou: eis porque a ida para Londres configura o abandono sem perdão de um combate e uma forma fácil de governar a vida. Vou a Camus: "Pode, realmente, pregar a justiça aquele que não consegue sequer fazê-la reinar na sua vida?"
Fica, desta história, a sensação de um remorso mal emendado. Há uma patética procura do equilíbrio perdido e uma fuga ao real, ilustradas por alguém que precisa de se justificar. Escrevo estas palavras isento de qualquer exaltação inútil. Mas a natureza dos factos recentes leva-me a considerar que os sonhos de Abril têm resultado na demonstração revoltante da cupidez de muitos daqueles que, afinal, estavam a investir no futuro pessoal.
Quanto à resposta de Alberto Martins, não passa de uma desgraça sentada em cómoda poltrona."
Rui, gostei do teu RSM, esotu a ver-me a citá-lo algumas vezes. Espero não me esquecer dos direitos de autor.
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