segunda-feira, 14 de julho de 2008

Para onde vai a Europa?

Como Marx, considero a religião o ópio do povo, qualquer que ela seja.

Uma marroquina de 32 anos, casada com um francês, mãe de três crianças nascidas em França, viu ser-lhe negada a nacionalidade francesa pela prática radical da sua religião e nomeadamente o uso de burqa.
Como é possível que no país que ficou na história como exemplo da pátria da liberdade, aconteça que alguém que cumpre todos os critérios objectivos para adquirir a nacionalidade francesa, vê o seu pedido recusado por efeito de interpretações religiosas, violadoras da separação entre Estado e a religião?
A que propósito o estado francês se arroga no direito de recusar a nacionalidade a uma cidadã só pela forma como ela se veste, num acto assumido e livre?
Acaso uma cidadã nascida francesa está impedida de o fazer?

A decisão foi tomada na base de
«valores fundamentais da sociedade francesa». Acaso qualquer cidadão francês não se poderá opor, contestar, refutar, recusar e viver de forma oposta ou diferenciada desses mesmos ditos «valores»?

Quem atribui o direito ao Estado de impor ou, como neste caso, exigir a vivência e adesão a certos valores?
Não será isto uma forma de censura e de exclusão de cidadãos?

O estado da liberdade nesta Europa está a ficar preocupante!

4 comentários:

Anónimo disse...

Porquê uma outra nacionalidade ?

Ou a troca da burqa pelos fatos Chanel.

O ser cidadão de um País,qualquer que ele seja, implica que se conheça a História,os usos ,os costumes,implica que se ame esse País de acolhimento.

Se se quer continuar a usar todo o simbolismo e os rituais da sua terra mãe, é porque não se sente verdadeiramente nacional do País de acolhimento.
Então, porquê pedir essa nacionalidade?
Por questões económicas,sociais familiares,de facilidade de integração ?

Perguntas que tornam esta temática da nacionalidade complexa e que os anos vindouros nos ajudarão a esclarecer.

Ou a mesclagem das raças, dos credos, das nacionalidade ... ou seres apátridas sem ideais ?

Olaio disse...

"Se se quer continuar a usar todo o simbolismo e os rituais da sua terra mãe"?

Imelda o uso da burqa não é um ritual de marrocos, do seu povo, ou de qualquer pais do mundo, é um ritual de uma religião e que eu saiba a França é (era?)um estado laico em que qualquer cidadão pode professar a sua religião...parece que as coisas estão a mudar.

Anónimo disse...

Esta questão é muito mais vasta do que parece!

Não, a burqa não é só o ritual de uma religião.
A burqa é um ferrete para marcar um ser supostamente inferior.
Com esses argumentos arriscas a ira das femininistas.
Até eu, que nunca queimaria um soutiem,( até porque são um elemento feminino de que gosto) estou um bocadinho de sobrolho cerrado

Nenhum País deve
interferir na religião dos seus nacionais
Claro que a Françã, ou qualquer outro País não deveria ter interferido em questões religiosas, sejam elas Cristãs, Muçulmanas, Adoradoras da preguiça, ou do sol, etc.


Não é a liberdade religiosa que está em causa.

O que está em causa,é que para estas perguntas eu não tenho a certeza das respostas:
1- Uma mulher que quer continuar a usar burqa, realmente é um mulher de Nacionalidade Francesa?
2- O que é realmente um cidadão de um País? O que o ama? Ou o que tira dele beneficios, fingindo-se nacional?
3- Uma mulher Francesa que tivesse casado com um Muçulmano poderia ter a Nacionalidade do marido e continuar a usar mini-saia, cabelo à Edithh Piaf e uma cruz?

4- Esta mulher tem alma de francesa,ou é uma Marroquina com medo de voltar ou seu País, ou é uma verdadeira "coquette" em burqa de seda valentino?

5- A liberdade é só no sentido do ocidente?


Claro que com os teus dotes de paladino da Liberdade, a tua forte dialéctica,com os teus argumentos, embora verdadeiros, são sectoriais .... penso que confundiste a nuvem por Juno

Vês, é por estas e por outras, por vezes exasperas os teus netcontendores.

Olaio disse...

Lutar pela liberdade, não é só defender o direito de livre expressão daqueles que nos são próximos ideologicamente, é principalmente, defender esse direito, àqueles que estão distantes de nós ideologicamente.

É claro que a burqa é um ferrete para marcar um ser supostamente inferior.
É claro que a burqa é um adereço, que faz parte de uma corrente de uma religião que tem uma concepção do mundo detestável.

O que está em causa aqui, é defender-mos o direito que as pessoas têm de professar religiões ou crenças religiosas e politicas, independentemente da nossa opinião acerca delas (exceptuo posições fascistas e racistas).

O que está em causa neste caso é só a liberdade religiosa e mais nada, nenhuma outra questão foi levantada e o uso da burqa é só uma questão religiosa. Uma pessoa por usar uma burqa não é um terrorista.

Quanto às tuas perguntas.

1- E se uma mulher que nasceu em França, de pais franceses, usar burqa perde a nacionalidade? Onde está inscrito que uma mulher que usa burqa não pode ter nacionalidade francesa? E se for homosexual pode ser um verdadeiro portugês, ou vai ter que ser expulso para França?
2- O que é um cidadão de um pais? Essa pergunta levar-nos-ia muito longe, será o Deco português? E não será justo que tenham a nacionalidade francesa todos os portugueses que para lá foram por questões económicas? Muitos nem sabiam o que era a França. Que é isso de amar um pais? Se eu não amar o meu pais posso ser expulso? Corrido da segurança social?
3- E por não haver liberdade num país muçulmano isso deve-nos servir de exemplo? Tantos anos de civilização e cultura para agora agir-mos como fundamentalistas irracionais?
4- E se tiver medo de voltar para o seu país, não é ainda mais razão para ficar? E se for “coquette”, não é isso uma prova que tem espírito de francesa?
5- O ocidente deve ser um exemplo de liberdade, eu pelo menos defendo e prezo isso. Orgulho-me de fazer parte desta civilização e por isso defendo que continue a ser um exemplo disso, para que os outros povos no sigam

Não confundi a nuvem por juno, aquela mulher, por “livre vontade” usa uma burqa, não é obrigada a usá-la, até porque o marido é francês (será que lhe vão retirar a nacionalidade por supostamente obrigar a mulher?). É claro que podemos pôr em causa a sua “livre vontade”, mas se formos por ai, onde paramos?

Enfim, como disse ao princípio, isto é tudo uma questão de liberdade, tolerância, direito à diferença e principalmente, de defesa de séculos e séculos de uma extraordinária civilização.