quarta-feira, 23 de abril de 2008

O cidadão consumido

O Rui Silvares no seu blog 100 Cabeças, coloca uma questão interessante à reflexão. Partindo da “descoberta” da Ana de que o conceito de cidadania está a ser substituído pelo conceito de “consumismo”, chega à conclusão que o direito à liberdade individual vai sendo substituído pelo direito ao consumo, com as pessoas a preocuparem-se mais com o que podem meter nos carrinhos de compras do que com a possibilidade de debater e intervir na construção da coisa social.

Concordo com ele e, na minha opinião tal facto não é inocente nem acontece por acaso, ele é resultado de um pensamento (ideologia) que procura empurrar os cidadãos para o conformismo e amorfismo políticos. O conceito de cidadania já procura esse objectivo, porque pressupõe que os cidadãos em geral têm problemas que são comuns, omitindo que na sociedade os objectivos e interesses de cada um têm a ver com a sua posição na estrutura económica da sociedade. Teoricamente todos teremos interesses na defesa do planeta, ricos e pobres, patrões e trabalhadores, mas se a defesa do ambiente puser em causa os interesses económicos de uma empresa, raramente quem está à frente dela hesita na posição a tomar.

A verdade é que o conceito de cidadania já não interessa à actual cultura do capitalismo (ele serviu enquanto o bloco socialista representava para ele uma ameaça) e por isso a sua ideologia colocou de parte qualquer resquício de solidariedade que nela persistisse, passou a defender uma ideia de felicidade que se esgota no consumo. O individualismo como meio para se alcançar o sucesso, que por sua vez se resume à aquisição de poder, dinheiro ou símbolos materiais. A responsabilização individual pelas dificuldades e problemas que cada indivíduo tem ou sente e a partir dai, fazer crer que os direitos adquiridos por gerações de trabalhadores, são injustificados privilégios, ao mesmo tempo que eles voltam a acumular privilégios, esses sim verdadeiramente obscenos.

Por fim colocam a “inevitabilidade” e “modernidade” de as novas gerações disporem de menos direitos e garantias, acabando por contribuir para a actual situação de crise financeira. O capital resolveu deixar de valorizar os salários, substituindo-os pela facilitação no acesso ao crédito, um direito era trocado pela criação de uma dependência, de certa forma transformava-se o trabalhador num escravo nas mãos dos bancos… o resultado está à vista de todos.

1 comentário:

jorge disse...

Finalmente estamos de acordo, Olaio. Boa reflexão. Assino por baixo.