sexta-feira, 25 de abril de 2008

Os cravos de Abril

Este medo de olhar em frente
de viver
a vida sem ser vivida
de sermos nós de fugida.
Esta saudade do que não seremos
esta raiva que nos morde
Sufocamos
Mirramos

E tu continuas esperança
botão sem flor, ausente, carmim.
Apenas cravo na lembrança
nesta solidão de mim,
nesta noite sem rosto,
nesta noite sem fim.!

Esta pata de sangue que nos pisa
esta
estas palavras que nos sufocam
este medo que nos aterroriza
esta raiva que nos
Apodrecemos.
Morremos.

E tu continuas ânsia
botão sem flor, cor de carne
cravo sonhado à distancia
no nosso corpo de mármore
que sangra até se esvair.
È tarde.
E tardas tanto a florir!

Este silêncio que nos consome
este consenso que nos cega
esta luz lívida da madrugada
tapada pelos sussurros
da liberdade
sonhada.

E os cravos floriram
numa sonhada madrugada,
no sitio menos esperado,
nas espingardas de Abril.

És flor intensa, cor de sangue
de vida, de sonhos, de amor
de paixão
as vozes caladas, sufocadas
erguidas do negro do chão,
neste espanto de existir
neste espanto de ser gente
gritaram para sempre,
para a eternidade:
cravo da Liberdade!

Meladi

6 comentários:

Olaio disse...

Obrigado Meladi por este cravo de Abril!

anandre disse...

A renúncia é a libertação. Não querer é poder.

Fernando Pessoa


Falta ensinar ao Povo renunciar às promessas fátuas de facilidade e pseudo-escolhas.

Falta retomar o NÃO de Abril.

25 de Abril sempre!

Anónimo disse...

Só cravos, cravos e mais cravos.. as rosas cor de rosa ou laranja são flores mais aristocráticas... e são um desafio conseguido.

Anónimo disse...

não sou crítico de poesia, mas parece-me excelente. Só o tema já está um pouco batido. Caríssima Meladi, que tal algo mais para os lados de Maio ? Ou Março ? Ou qualquer outro mês ? ou sobre crianças ? Que nascem puras como a água da chuva e ao longo do caminho são envenenadas por mil e um venenos...

Anónimo disse...

Gostei muito do poema!

A possibilidade de mudança é um escape para o arduo trabalho que é viver. Abril foi uma porta, cada pessoa escolheu um caminho... a maioria o mais fácil.

Anónimo disse...

Olaio e anarquista frustrado:
obrigado pelos vossos amáveis
comentários aos meus "desabafos" em rima.

Zé neves:
de facto, rosa e laranja não são as minhas cores preferidas, mas tenha a bondade de nos brindar com as variantes conseguidas?(quanto a si)nesses tons.
anandre:
quando é que vemos o teu talento poético na lingua de Camões?
helena:
o ponto e o contraponto ou as variações sobre o mesmo tema nestes "netjogos" florais são estimulantes.
Para quando os seus belíssimos poemas?

meladi