quinta-feira, 10 de abril de 2008

Solidão

Chegas devagar:
Silenciosamente,
passo a passo ás escondidas,
a pairar, fingida, furtiva.
A surgir no vazio dos meus olhos
nas ausências do meu regaço,
no sofrimento das muitas partidas
sem chegadas, traídas, sofridas!

Chegas, traiçoeira:
Lentamente,
a dizer-te, só minha, inteira
dançando com ardis de sedução
a fingires ser tua, a minha razão.
E eu, sem saber que estás aqui
a ficar, dolorosamente, grávida de ti.

Chegas,
Funestamente,
Com esse perfume doce de cera,
esse manto frio, cego de cetim
a quereres ser pele da minha pele,
nessa Sorte de seres tu em mim.
E tu, habilmente,
ensaias o teu beijo de morte!

Não,
não quero estar conformada.
quero a raiva de todo o mal,
quero a esperança da chegada.
Quero desnudar o meu peito á lua,
mergulhar noutro mar, no do amor que flutua
ficar limpa do teu viscoso sal,
e de alma nua,
salvar-me, de novo, do teu areal.

Meladi

5 comentários:

Anónimo disse...

Belíssimo

Anónimo disse...

A solidão é, por vezes, a personificação de todos os nossos receios numa figura literaria (!?)
Estaremos um dia realmente sós ou sentirmo-nos-emos sós? E o só de onde vem, pq assusta? Será o só o resultado do esquecimento, ou será o enaltecer do sentimento que durante a nossa breve estadia nao deixamos a nossa marca? Que ninguem está ao nosso lado...
Bonito, sim, talvez, nao sei...será? Agradavel aos olhos, melódico, até métrico, mas representativo do meu proprio sentimento?... Não, a solidao pode ter varias formas dependendo de quem a sente... axo que, no fim, o mais importante é que quem leia sinta, e ao sentir pense, e ao pensar cresça!

Anónimo disse...

É um poema muito bonito e com confiança na vida.

anandre disse...

A filosofia budista considera que não há estados negativos: negativas são as emoções que esses estados evocam em nós - ou que nós deixamos crescer sem nos opôr. Importante é o reconhecimento do estado e a aceitação de algo que nos pode fazer crescer em vez de nos diminuir.

Gostei do final: é preciso viver!

Deixo um poema do Drummond em laio de resposta muito mais subtil do que alguma vez almejaria escrever:


"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."

Anónimo disse...

GOSTEI MUITO:
penso que deveria mandar os seua poemas para editoras mais apropriadas...há tantas na Net.